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Data: 23 de julho, 2018Imprimir

POLÍTICA – TRIBUNA

Otto recebe convite, mas nega por lealdade a Rui

OSVALDO LYRA EDITOR DE POLÍTICA

Tribuna da Bahia – Como o senhor avalia a eleição aqui na Bahia? Continua morna ou já embalou?

Otto Alencar – A eleição na Bahia, tanto na capital, como no interior, já vem sendo discutida há muito tempo. Num primeiro momento, o governador (Rui Costa) esperava enfrentar a candidatura do prefeito de Salvador (ACM Neto). Como o prefeito não tomou a iniciativa de renunciar, veio outro candidato. Tanto em Salvador, como no interior, nós estamos visitando vários lugares com esse programa de governo participativo. Temos tido grandes reuniões plenárias com sugestões, inclusive, para o governador registrar no TRE aquilo que ele pretende fazer nos próximos quatro anos. Agora, o interessante é que em 2014 nós fizemos a mesma coisa. O governador foi o que mais realizou o que prometeu no programa de governo: realizou 70% dos compromissos, o que na crise é um número muito alto. Tanto é que o G1, que é o site que faz esse levantamento com isenção, mostrou isso. Nós temos visto uma população muito satisfeita no interior. Isso é muito importante

Tribuna – O favoritismo do governador Rui Costa deixa aliados do Governo numa situação confortável. Isso pode gerar algum risco ou o cenário já está consolidado justamente por essas entregas de obras que estão sendo feitas?

Otto – As reuniões plenárias estão muito boas. A última pesquisa que foi feita nos deu uma vantagem muito grande. No entanto, isso não nos tira a intensidade do trabalho, que sempre foi intenso desde que começou o governo. Agora, esse favoritismo, quem está mostrando não somos nós. São as pesquisas. O desempenho do governador tem sido muito bom, um dos mais bem avaliados do Brasil. Aliás, nós temos informações de institutos de credibilidade que os três melhores governadores do Nordeste são o do Ceará, o do Piauí e o da Bahia. Todos os três são do PT. Então, essa avaliação é positiva. Na crise, estar bem avaliado é muito importante. E nós temos uma vantagem muito grande: somos aqueles que não aceitaram Temer. Essa eleição vai ser dividida entre a turma de Temer e aqueles que, como nós, não aceitamos Temer. Essa turma do DEM e do PSDB vai ter muito que explicar.

Tribuna – Como o senhor viu a exclusão da senadora Lídice da Mata da chapa do governador Rui Costa?

Otto – O interessante é que você fala em exclusão, como se ela não estivesse na chapa em 2018. A chapa de 2010 foi uma coisa, nós a apoiamos. A chapa de 2018 ela não foi excluída porque ela não está na chapa, e sim no seu mandato de senadora. Assim como Walter Pinheiro. Vocês da imprensa colocam muito mal essa visão. Ela não foi excluída porque ela não está na chapa de 201 8. Ela esteve na chapa de 2010 e, em 2014, como candidata a governadora. Então, ela não foi excluída. O candidato do PSD [Ângelo Coronel], pelos motivos que vocês conhecem, foi aceito. Não foi uma avaliação feita por mim. Foi uma avaliação feita por quem coordena o processo, que é o próprio governador. Eles [o PSB] ficam colocando na conta do PSD a exclusão. Não tem exclusão. Só existe exclusão quando alguém está e sai. Ela não entrou na composição da chapa pelos motivos que todos vocês sabem. A coordenação foi feita pelo governador Rui Costa.

Tribuna – Com a não presença de Lídice na chapa, surgiram comentários de que a base iria votar em Jaques Wagner como primeira opção ao Senado e que não votaria em Coronel. Preocupa um movimento como esse ou o senhor acha que vai haver uma unidade na composição?

Otto – Olhe bem, buscamos a unidade. Mas é lamentável que isso possa acontecer porque se Coronel não tivesse sido escolhido pela coordenação da composição da chapa, nós votaríamos naquele que fosse escolhido. Ela [Lídice] ou qualquer outro. É claro que a unidade é sempre melhor. O PSB é um partido importante, que tem destaque aqui na Bahia. Certamente se houver essa retaliação ao nome de Coronel, vamos ter que buscar dentro do nosso trabalho a recuperação desses votos que serão negados a ele. Nós estamos trabalhando muito para isso.

Tribuna – Quem vai será o suplente de Coronel? Já há um consenso com o PCdoB pelo nome de Davidson Magalhães…

Otto – O governador está decidindo isso. O nome de Davidson é muito bem-vindo. Até porque, nós, do PSD, temos tido uma ótima relação com o PCdoB. Temos uma interface muito grande desde 2010. Em 2016, o primeiro partido a apoiar Alice Portugal fomos nós. Temos uma simpatia muito grande e uma relação política melhor ainda. Então, se for ele, nós ficaremos muito bem contemplados.

Tribuna – O senhor acredita na possibilidade de Wagner ser candidato a presidente ou a vice, como o próprio governador Rui Costa admitiu nos últimos dias?

Otto – A última vez que estive com o presidente Lula, antes de ele ser condenado em segunda instância, contrariando o que reza a Constituição, foi no Fórum Social. Estava ele, Rui Costa, Dilma, o presidente da CUT, Wagner… Ele foi afirmativo e textual que, se ele não fosse candidato, o preferido era Wagner. Já ouvi de alguns senadores do PT que o nome que Lula considera mais adequado para sustentar o seu legado é Wagner. Se Wagner vai ser indicado ou não, eu não sei. Ele tem um trânsito muito grande na classe política.

Tribuna – Se Wagner for candidato a presidente, quem vai substituí-lo na vaga ao Senado na chapa de Rui?

Otto – Não sei. A vaga é do PT e é o PT que certamente vai tomar essa decisão.

Tribuna – Não abriria um espaço automático para a vaga de Lídice?

Otto – Não sei. O PT é que vai decidir isso. Se, por acaso, Wagner for o candidato e o PT abrir espaço para a senadora Lídice da Mata, o PSD em peso vai apoiá-la. Não se corrige um erro com outro.

Tribuna – Como o senhor vê as indefinições para a montagem da chapa de José Ronaldo pelo DEM?

Otto – Não vejo e não converso com nenhum integrante de lá. E não acompanho. Cuido muito do meu time. Tenho trabalhado intensamente, conversado com lideranças e viajado bastante. O nosso time está arrumado e azeitado.

Tribuna – O PSD sempre articulou e sempre fez prefeitos em cidades de médio e pequeno porte na Bahia. Para a eleição de 2020, vão mirar em Salvador, Feira de Santana e outras cidades polo do estado?

Otto – Não sei. Essa discussão vai ser depois dessa eleição. Aí vai depender das circunstancias lá na frente. Nós não temos nome ainda em Salvador. Temos um nome em Feira de Santana, que é o deputado federal Fernando Torres. Ele manifestou o desejo de ser candidato. Nós, certamente, teremos nome em Barreiras, mas não há nada definido.

Tribuna – Essa semana algumas pessoas falaram sobre um movimento, da base aliada ao PT, de atenção redobrada à movimentação do senhor. O temor era que Otto Alencar e o PSD saíssem fortalecidos demais na campanha e, automaticamente, o senhor fosse colocado como candidato a governador em 2022. É muito cedo para falar disso, senador?

Otto – Isso é um exercício futurista de quem, ao contrário de se preocupar com o próprio desempenho, fica preocupado com o desempenho do PSD. Eu nunca me coloquei como candidato. Se eu quisesse me colocar como candidato ao Governo, o momento mais confortável seria agora, porque eu não teria nada a perder. Se perdesse, ainda teria mais quatro anos como senador. Foi o movimento que a senadora Lídice fez em 2014. Eu tenho partido e tenho base.

Tribuna – Mas, no entanto, o senhor preferiu continuar no projeto do governador Rui Costa…

Otto – Claro, eu tenho palavra. Como é que eu vou quebrar? Se eu disse que apoiaria ele, como é que eu vou quebrar o compromisso? Por ambição? Por desejar mais poder? Deus já me deu tudo o que esperava. Sou muito grato pelo que alcancei como médico, professor e político. Quando a ambição fica muito grande na cabeça do político, a própria ambição o engole. E temos casos aqui na Bahia recentes.

Tribuna – Como o senhor vê a indefinição do cenário nacional?

Otto – Está tudo dependendo da candidatura do ex-presidente Lula. Não foi dado o direito de defesa a ele, como prevê a Constituição. Isso deixa um clima de insegurança. A definição mesmo só vai surgir depois do desfecho do caso Lula. Estão ficando claras algumas coisas a nível de pensamento ideológico. A direita se reuniu agora no entorno de Alckmin. O meu próprio partido, o PSD nacional, decidiu apoiar o Alckmin. Não será uma coisa uniforme em todo o Brasil. Aqui na Bahia não vamos apoiar. O presidente Kassab vai respeitar as decisões estaduais. Tem problemas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná… está indefinido.

Tribuna – A candidatura de Bolsonaro, o favoritismo após a exclusão do ex-presidente Lula da eleição, preocupa?

Otto – Não me preocupa, não. A candidatura de Bolsonaro é de um candidato que nós nunca tivemos na história do Brasil, com essa linguagem agressiva e estímulo de retaliação a segmentos minoritários do Brasil. Fica excluindo o direito das mulheres, do grupo LGBT, estimula a violência através das armas. É um candidato que nós não tivemos na democracia. É um candidato que eu jamais apoiaria, mas respeito quem os apoia.

Tribuna – Qual será o perfil do próximo presidente da República? O que a população vai cobrar do candidato na hora de escolher o candidato?

Otto – Será um candidato que tenha uma proposta social. O Fernando Henrique veio com essa proposta, apesar de ser filiado ao PSDB. Ele foi o presidente que iniciou alguns avanços sociais. Depois Lula entrou no governo e ninguém foi melhor do que ele na área social. Não há como governar o Brasil com essas propostas do Henrique Meirelles e do Geraldo Alckmin, de fazer um governo sem grandes avanços sociais, mantendo o Brasil desigual. Uma pequena parte da população tem poder econômico grande e a grande maioria tem imensas dificuldades sociais. Então, em minha opinião, o projeto tem que ser social.

Tribuna – Como o senhor viu a guerra de liminares no caso do ex-presidente Lula? A estratégia que é colocada é que o PT vai registrar a candidatura dele, a Justiça Eleitoral decidirá que ele não é candidato em setembro e haverá a substituição. Isso seria uma estratégia do próprio partido para formar bancada forte no Congresso e manter o PT vivo…

Otto – Quem deveria dar essa estabilidade jurídica ao país seria o Supremo Tribunal Federal. Ele havia entendido que os processos deveriam ser julgados em todas as instâncias antes de decretar a prisão. Recentemente, entendeu que não. A presidente atual do Supremo, a ministra Cármen Lúcia, tem nas mãos a ação direta de constitucionalidade e não coloca em votação. Colocou em votação o habeas corpus do presidente. Eu lamento essa posição do STF, que seria o órgão que deveria definir com clareza essa situação. Nós temos o presidente preso e o Rocha Loures, flagrado com uma mala de dinheiro, está solto.

Tribuna – Para finalizar, qual a mensagem que o senhor deixa para a população que está tão descrente da política, dos políticos e da forma atual de fazer política?

Otto – O dia 7 de outubro é a hora do voto. Cada eleitor poderá avaliar os candidatos. Isso é com o eleitor. É o eleitor que vai fazer do 7 de outubro o dia da reforma do Brasil. Será a reforma dos homens que vão governar o Brasil. Compete ao eleitor avaliar quem tem compromisso com o país. Toda a eleição eu digo sempre que é a hora da reforma, não do Estado, e sim dos homens que vão governar o Estado. Está na hora do eleitor fazer a reforma dos homens. O futuro do Brasil está nas mãos da população. O que me chama a atenção é que o presidente mais impopular da história do país tem mais de dois terços de apoio na Câmara Federal. Ele fez a distribuição de cargos e agora tem esse apoio. Quem vai votar é o povo e, em minha opinião, vai votar contra aqueles que apoiam o presidente da República incompetente, entreguista e, segundo a Procuradoria Geral da República, atolado em corrupção. Eu tenho ouvido isso no interior. O povo coloca isso com muita clareza: nós vamos tirar aqueles que apoiaram Michel Temer.

Colaboraram: Henrique Brinco, Guilherme Reis e Rodrigo Daniel Silva.

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